IV.
A acomodação dos Graus Adonhiramitas aos Graus do REAA
Para a plena acomodação dos Graus Adonhiramitas no esquema de 33
Graus do REAA, era necessária a divisão em Câmaras
Ritualísticas. Essa divisão, obviamente, não existe na
“Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”, que foi escrita
bem antes do aparecimento dessas divisões no seio do REAA.
O sistema de divisão em Lojas de Perfeição, Capítulos, Areópagos
ou Oficinas de Kadosh, Consistório e Supremo Conselho foi
adaptado ao Rito Adonhiramita com a manutenção dos 10 Graus
“filosóficos” originais diluídos dentre os Graus Escoceses.
Todos, obviamente, com os cerimoniais do “Ritual de Lauderdale”,
levemente modificados.
Tendo em vista que o Rito Adonhiramita até então só era
praticado no Brasil, ou seja, que não havia a preocupação em se
manter alguma uniformidade com outros corpos Adonhiramitas no
estrangeiro, as modificações, invenções e teorizações
desprovidas de base documental se tornaram um hábito nos
primeiros escalões do Rito. V. As invenções místicas e os equívocos
oficializados
Como tradicionalista, não tenho absolutamente nada contra os
ensinamentos herméticos ou as tradições esotéricas. Leia-se bem:
TRADIÇÕES esotéricas.
Uma Tradição é a transmissão, de forma ortodoxa, de um conjunto
de ensinamentos cuja origem se perde na noite dos tempos e cujo
rastro pode ser historicamente traçado através de escrituras,
documentos, registros, mitos etc. que, em geral, contam com
vasta fundamentação simbólica, filosófica e até antropológica.
Bem diferente de uma autêntica Tradição Esotérica é uma invenção
baseada em uma suposta clarividência, intuição ou achismo sem
fundamentação, sem respaldo em qualquer tradição e sem uma
lógica interna que possa, sequer, justificar a sua existência
dentro de um determinado sistema de maneira coerente.
Não só o Rito Adonhiramita, mas infelizmente todos os Ritos
Maçônicos são vitimados pelo que chamamos de “iluminados”, que
tiram do bolso “descobertas”, “usos e costumes”, “melhorias”,
“adaptações” ou “interpretações” que fazem com que intelectuais
não iniciados e indivíduos externos mais qualificados, ao
analisarem a Maçonaria, acabem por considerá-la como uma imensa
maçaroca de crendices mal digeridas, recoberta com o discurso de
“combate à ignorância, à superstição e o fanatismo” para ocultar
uma grande inanição intelectual.
Como instituição que deve zelar por ensinamentos tidos por
“esotéricos”, ou seja, reservados a um grupo seleto, seria
desejável que o processo de seleção contemplasse um rigor bem
maior, especialmente no que tange a atributos intelectuais e
morais, além da adoção de critérios claros e rigorosos para
qualquer tipo de alteração em rituais.
No Rito Adonhiramita atual alguns procedimentos são invenções
puras e simples. Um exemplo é a “circulação em infinito”, que
não consta em nenhum documento histórico do Rito e nem em
qualquer outro ritual de onde poderia ter sido tirado.
Apesar da interpretação forçada para enxertar um significado, o
fato é que não há em toda a histórica litúrgica do Ocidente ou
do Oriente, a tal “circulação em infinito”.
Inventem explicações místicas, ocultistas, extraterrestres ou
seja lá o que for. Mas não chamem isso de Tradição e nem tentem
obrigar os outros a acreditar nisso.
Não contentes com a tal circulação, os “iluminados” ainda
inventaram que é necessária uma inversão em seu sentido em
acordo com o Grau trabalhado, transformando a circulação em Loja
num verdadeiro bailado e um inferno para os oficiais que
necessitam se movimentar. Pior ainda é que o sentido das
circulações muda a cada reforma nos rituais.
A passagem obrigatória por trás da cadeira do Venerável é outra
invenção. Tentando imitar a “Ara” do Ritual de Lauderdale (que
foi imitada do Rito de York Norte Americano), sobre a qual fica
a luz perpétua ou “fogo sagrado” (imitada do Rito de
Menfis-Misraim), mas arrastando a mesma Ara para o Oriente,
alguém achou bonito imitar o uso norte-americano de não
atravessar a linha entre a Ara e a mesa do V.M. e, como a Ara
está no Oriente (pois o painel tem que ficar no meio da Loja, o
que não acontece nem no Lauderdale, nem no York), a solução foi
esmagar o pobre oficial em trânsito entre a cadeira do VM e a
parede do Oriente.
Se o erudito Louis Guillemain de Saint Victor assistisse uma
Loja do Rito Adonhiramita hoje, ficaria bastante chocado por ver
tantas e tantas inovações.
Há também a longa e enfadonha história das cores de gravatas, as
discussões sobre gravatas borboletas ou comuns, uso ou não uso
de balandrau e outras muitas inutilidades completas que tomam o
tempo de quem gostaria de se dedicar a estudos mais sérios e
acaba sendo envolvido em debates sobre gravatinhas, frufrus, cor
de terno e até de meias, mas que nada trazem em matéria de
compreensão de si mesmo, do ser humano, da humanidade, do cosmos
ou sequer da história ou das autênticas tradições do Rito que
está sendo praticado.
Da mesma forma, vemos com assombro notórias invenções e teorias
apócrifas sobre a história do Rito Adonhiramita (e também de
outros ritos) sendo estampadas nas edições oficiais dos Rituais,
que não apresentam fontes, bases ou elementos minimamente
fiáveis sobre o que apresentam. É lamentável ver os Aprendizes a
serem doutrinados com esse tipo de material de baixo nível. VI. Conclusão
O presente artigo, como foi dito em sua introdução, tem por
objetivo despertar nos Irmãos, especialmente os do Rito
Adonhiramita, o gosto pela pesquisa e lhes dar elementos
básicos, fiáveis e colhidos de forma metodologicamente correta,
para o desenvolvimento de pesquisas mais acuradas e específicas.
Não temos a fantasia de, em umas poucas páginas, esgotar um
assunto tão vasto. No entanto, talvez este seja o primeiro texto
sobre o Rito Adonhiramita no Brasil que apresenta, de forma
cronológica e metódica, considerações sobre o desenvolvimento do
Rito, suas alterações, influências intelectuais e as formas
tomadas ao longo do tempo.
Quanto mais profunda a pesquisa, menos abrangente ela deve ser.
Justamente por isso optamos pela abrangência, para que,
posteriormente, cada detalhe possa ser pesquisado com
profundidade. VII. Bibliografia
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